Seleção feminina fará amistoso no Brasil na data Fifa depois da Copa América em outubro

CBF busca colocar os jogos no país em estádios da Copa do Mundo de 2027. Última data Fifa do ano, em novembro, será na Europa

A Copa do Mundo feminina no Brasil começa em exatamente dois anos. No dia 24 de junho de 2027, a primeira partida será realizada, com a estreia da seleção feminina. A CBF já trata de fortalecer desde já a caminhada da equipe com amistosos diante de rivais integrantes do top 10 do ranking da Fifa. Além de adversários fortes, a entidade também quer partidas no país em datas Fifas alternadas. De acordo com Cris Gambaré, coordenadora de seleções femininas, o período de amistosos pós-Copa América, em outubro, será no Brasil.

– Esse planejamento desde o primeiro amistoso e em conversa com a comissão dizendo “vamos trazer amistosos para o Brasil”. A gente precisa criar essa cultura aqui dentro. É o país do futebol e por que a gente joga futebol na casa dos outros? Sendo um país que vai sediar a Copa do Mundo já ajuda muito e o planejamento que eu fiz foi: uma data Fifa no Brasil, uma fora do país e assim a gente vai com as datas Fifa. Inicialmente já conseguimos fechar com os grandes adversários top 10 com reciprocidade, ou seja, joga aqui e joga no país deles. Isso é bom porque consigo planejar um calendário de alta performance para a comissão, para as atletas e para a instituição organizar tudo isso. O próximo amistoso vai ser no Brasil contra uma grande seleção e depois embarcamos para a Europa na última data Fifa do ano com jogos na Europa. Para 2026, voltamos com um planejamento dentro e fora de casa e os campeonatos que possivelmente ocorrerão, mas nós ainda não recebemos convite. Mas o planejamento já está até 2027 mais ou menos encaixado. Estamos formulando contratos e deixando tudo alinhado – afirmou em entrevista exclusiva ao Dona do Campinho.

Além disso, há a possibilidade, até pela preferência dos rivais, de que esses jogos nas datas Fifa em território brasileiro ocorram nos estádios que irão receber jogos da Copa do Mundo de 2027.

– Os top 10 do ranking da Fifa já nos procuraram e existe essa reciprocidade. Interesse de jogar lá e jogar aqui nos estádios que vão sediar a Copa que é interessante para nós e para eles. Então nos facilitou que isso aconteça com muito mais frequência. E essa facilidade nos traz mais desafios porque nós temos que mostrar o melhor, mostrar o melhor futebol e sair sempre com a vitória. Os desafios sempre aumentam mais – disse Cris.

Todo esse planejamento até o Mundial já está em processo de construção e execução. A responsável por isso é Cris Gambaré, que assumiu como coordenadora de seleção femininas há um ano e três meses. Desde então, ela busca levar sua experiência do Corinthians à seleção brasileira. A fórmula da parceria bem sucedida com Arthur Elias já rendeu frutos na chegada ao cargo. O Brasil conquistou a prata nos últimos Jogos Olímpicos em 2024. A chegada à decisão da disputa em Paris e a elevação do nível da seleção feminina teve como resultado um calendário de alto nível. Os e-emails que antes ficavam sem retorno agora são prontamente retornados. O respeito retomado foi uma das conquistas da nova gestão.

– O objetivo é o mesmo. Trazer o melhor futebol delas e ter aquela meta de onde queremos chegar. O que muda disso? Muda a dinâmica. Hoje não falamos de Brasil ou América do Sul, mas falamos de mundo e de que forma nós tratamos com o resto do mundo. E aí foi quando eu identifiquei e compartilhei com a minha comissão que antes das Olimpíadas as nossas respostas para procura de amistosos eram quase nulas, tinham poucas respostas das seleções. Após as Olimpíadas eu tive quase todas as respostas por e-mail – nesse momento não, mas logo mais, temos interesse. Nós conseguimos mostrar com trabalho de que é possível hoje ser respeitado. O que nós buscamos? É o mesmo que o clube tem que buscar. O respeito dentro de sua modalidade, da sua profissão e do seu produto. O que nós buscamos dentro da seleção? Respeito, a melhor qualificação dentro do nosso produto. Isso é muito parecido. Mas sua dinâmica é diferente. Mas tudo que aplicamos na seleção tem dado certo. Acredito muito que essa bagagem que eu trouxe, que nós trouxemos e toda nossa história do ano passado para cá é muito positiva e a gente está conseguindo fazer com que seja muito impactante e visível para todo mundo – afirmou.

O próximo compromisso da seleção feminina será o amistoso diante da França, em Grenoble, na próxima sexta-feira, às 16h10 (de Brasília). A partida é em preparação final à Copa América, que ocorre entre 12 de julho e 2 de agosto.


Confira outras respostas da entrevista exclusiva com Cris Gambaré:

INÍCIO DO TRABALHO

Já estou há um ano e três meses na CBF. Inicialmente foi um desafio para mim porque eu saí da minha zona de conforto e entrei realmente em uma outra instituição e são outros caminhos percorridos e desbravados. A montagem de toda equipe, a metade já estava aqui. Agregrei aos que já estavam. As ideias que deram muito certo lá utilizamos da mesma forma na sua proporção e caminho para a seleção. Esse foi o pensamento inicial. Que a gente projetasse e planejasse uma evolução constante para as seleções não só da principal, mas também das categorias de base e que conseguíssemos almejar essa projeção em pouco tempo. Acho que esse caminho nós acertamos. Quando cheguei já estava no término da She Believes. Não tínhamos pego uma boa colocação, mas estávamos já no caminho de evolução com a equipe.

O OBJETIVO DOS AMISTOSOS REALIZADOS CONTRA A JAMAICA

– Logo depois fizemos um amistoso e trouxemos aqui para o Brasil contra a Jamaica, que estava engasgada na história e que era um desafio para a comissão, atletas e para mim. Não tinha essa conexão de amistoso e fui buscar nos meus primeiros meses essa possibilidade e conseguimos. Fizemos o que já sabíamos e o que sei fazer muito bem: colocar torcida dentro do estádio e de que forma nós colocamos, nosso 12º jogador. Nós conseguimos fazer isso já logo no começo. Isso foi um ânimo não só para o departamento todo, mas também para mim. Logo depois veio já a preparação para as Olimpíadas, onde já sabíamos a dificuldade que seria e como seria planejado. Aí a comissão nos traz alguns desafios. Para nós nunca foi algo fácil porque a modalidade nos traz um cenário mais difícil, trabalho com mais obstáculos, mas que a gente consegue chegar sim com trabalho e almejando juntos na mesma direção. Foi realmente onde conseguimos um feito histórico. Retornamos com a medalha de prata e pensamos juntos que estamos no caminho certo.

APROXIMAÇÃO DA TORCIDA COM A SELEÇÃO FEMININA

– Era um dos maiores objetivos nossos. Realmente trazer a torcida com o amor pela amarelinha e por que não na seleção feminina já sabendo que a gente estava construindo uma imagem positiva nesse ciclo. Era nosso próximo objetivo. Colocar outras atletas chegando mesmo com Marta, nossa melhor do mundo, seis vezes. A Marta também sempre fez esse pedido de que se deixasse um legado bacana para o futebol de mulheres. Acho que nós conseguimos fazer com que isso fosse valorizado, o trabalho. E trazer essa torcida, da mesma torcida que se tinha no clube, nós temos essa projeção para as seleções. A principal já está trazendo isso no cenário atual no Brasil e fora do Brasil. Estamos conseguindo conquistar grandes amistosos.

O PAPEL DE COORDENADORA DE SELEÇÕES

– Meu papel nos bastidores é de não trazer preocupação para eles e eles focarem no que eles têm projetado. Eles fizeram um grande trabalho e minucioso para cada jogo. Cada jogo tinha uma estratégia, uma técnica, uma aplicação, tinha um DNA diferente. E eles conseguiram aplicar. O que não se sabe dos bastidores é que a gente quase não dorme, é uma preocupação constante para que tudo dê certo, elas se sintam bem, eles estejam bem amparados e que a gente cumpre todos os regramentos. Para as Olimpíadas, nós temos três frentes. A CBF que tem seu regulamento e temos que aplicar, temos o regulamento do COI e temos o regulamento da Fifa. Então temos três frentes para entregar o processo sem danificar o interno e sabendo que nem todas as frentes vão chegar no mesmo consenso. O trabalho de bastidores e não é só meu é um trabalho dinâmico, rápido quando temos que projetar algo que possa dar errado para que mude essa rota, consigamos estar em uma rota melhor, confortável para todos eles. E isso foi feito ao longo de todas as Olimpíadas. A primeira fase foi muito difícil para nós. Primeiro, pelo crescimento das equipes e que bom. Elas entenderam talvez em um processo mais lento que estavam lá para validação do trabalho delas. Quando elas acreditaram e nós estávamos acreditando em nós mesmos foi a mudança de chavinha e começamos a fazer aqueles espetáculos contra França, Espanha e contra o próprio Estados Unidos. A medalha de prata que teve muito gosto de ouro (se emociona). Lembrança boa, um choro de missão cumprida. Nós chegamos lá com o objetivo de trazer a medalha e era para ser nossa.

A CAMPANHA NOS JOGOS OLÍMPICOS DE PARIS

– Nós estávamos convictos de tudo isso, sabíamos o potencial e acreditamos. Cada membro que estava lá conosco acreditou que nós iríamos chegar na final. E isso é uma prática nossa e com isso também conseguimos motivar todas elas. Falei para todas as atletas que estavam chorando: chorem de alegria porque é uma medalha com gosto de ouro. Era para ser nossa, nós jogamos muito mais tempo do que o normal de uma partida de futebol. Isso foi notório. Nós provamos que temos condicionamento, mentalidade e a potência de um bom jogo.

Seleção feminina treina em Grenoble para amistoso contra a França — Foto: Lívia Villas Boas / CBF

Seleção feminina treina em Grenoble para amistoso contra a França — Foto: Lívia Villas Boas / CBF

Por: Por Cíntia Barlem 

https://ge.globo.com