Mangueiras gigantes para combater focos de insatisfação com gramados e pausa de 11 dias sem jogos no MetLife Stadium: novo torneio da Fifa antecipa debate sobre adequação e padronização do campo para primeira Copa com 48 seleções, em 2026
New Jersey — Intervalo no empate por 4 x 4 entre Porto e Al Ahly, pela última rodada da fase de grupos da Copa do Mundo de Clubes. Enquanto os jogadores caminham lentamente rumo ao vestiário, um exército de profissionais invade o campo aceleradamente, pronto a protagonizar uma cena digna de episódios estadunidenses de séries, como Emergência 9-1-1. A mobilização para atender ao grito de socorro tem como endereço o gramado do principal estádio do novo torneio da Fifa e a duração do atendimento não pode ultrapassar 15 minutos.
Após cinco jogos, o MetLife Stadium está temporariamente fechado. A pausa de 11 dias sem partidas e a ausência no calendário das oitavas de final não são forçadas. O intervalo para recall foi programado na tabela e ajudará a Fifa a entregar o melhor gramado possível para a fase mais aguda. A arena receberá um duelo das quartas, as duas semifinais e a decisão, em 14 de julho, totalizando nove dos 63 confrontos.
Principal arena da Copa do Mundo de Clubes, neste ano, e de Seleções, em 2026, o MetLife sofre contestações desde o início da competição. As críticas partiram do Palmeiras, na estreia contra o Porto. A casa do New York Giants e do New York Jets na NFL usa piso sintético, assim como o Allianz Parque. Houve a instalação do tapete natural para o evento da Fifa, será retirado ao término e replantado no próximo ano.
“Vimos com clareza que o gramado não está nas condições que a Fifa trabalha. Não sei como foi o preparo. A gente não tem muito o que falar, porque a gente chega bastante focado na competição e não tem tempo para se preocupar com isso. Mas é claro que, ao nosso ver, precisa melhorar bastante”, reclamou Paulinho, depois do tropeço do Palmeiras contra o Porto.
O Palmeiras tinha um treino agendado para a véspera do jogo. Porém, a forte chuva em New Jersey não permitiu. Os primeiros contatos dos times com o gramado foram no aquecimento e na partida. Os jogadores alviverdes consideraram o campo muito seco. Consequentemente, a bola quicava demais e atrapalhava o domínio.
Choveu durante a estreia do Palmeiras e o técnico Abel Ferreira agradeceu. “Achei ótimo para dar mais velocidade ao campo, que estava completamente seco e nós conseguimos impor o jogo”, comemorou. “Podiam regar mais o campo no primeiro tempo. Atrapalhou o ritmo jogo para as duas equipes. A chuva melhorou a situação”, opinou Estêvão, depois da realização da primeira partida no estádio.
A reclamação não foi exclusividade do Palmeiras. O técnico Martin Anselmi criticou o gramado. “O terreno nos deixou um pouco imprecisos, principalmente quando queríamos acelerar o jogo”, observou o argentino. “Poderia estar melhor”, manifestou-se o zagueiro português Zé Pedro.
O goleiro do Borussia Dortmund endossou as observações no empate por 0 x 0 com o Fluminense. “Estava um pouco seco. Você pode sentir o gramado embaixo dele. Então, a bola não estava quicando da maneira que normalmente quica. Estava um pouco mole. A bola não ganhava a altura normal”, opinou Kobel, em um discurso reforçado pelo técnico. “Não está fácil para nós”, limitou-se a dizer o treinador croata Niko Kovac.
A reportagem do Correio observou no intervalo do empate por 4 x 4 entre Porto e Al Ahly uma preocupação redobrada da organização para deixar o gramado mais próximo possível do nível de excelência cobrado pelos jogadores. Quatro jatos d’água molharam o piso. A força-tarefa substitui a falta de sistema de irrigação no MetLife. A mobilização chama a atenção: é como se o Corpo de Bombeiros tivesse entrado em cena com a missão de apagar um incêndio.
Depois de cada jogo, a reportagem observa a entrada de uma legião de profissionais em campo para o tratamento luxuoso ao gramado. Assim como no Mané Garrincha, máquinas artificiais intensificam a iluminação, principalmente, na grande e na pequena área.
Outros palcos
O MetLife Stadium não é o único alvo das críticas. O Paris Saint-Germain derrotou o Seattle Sounders, na última rodada da fase de grupos, no Lumen Field, a casa do adversário, e soltou a língua contra a qualidade do piso no qual os atuais campeões da Champions League conquistaram o primeiro lugar no Grupo B da Copa do Mundo de Clubes.
“Algumas coisas precisam melhorar. Não é fácil jogar com esse tipo de campo. A grama é muito diferente da Europa, por isso, não é tão simples ter a mesma suavidade de jogar no nosso estilo. Mas nos adaptamos bem e estamos felizes”, ponderou no início da coletiva.
Mais à frente, o espanhol se aprofundou. “O que me importo é com o estado do campo de jogo. E esse é muito distante do gramado que temos na Europa. A bola pula como se fosse um coelho. Não vamos usar como uma desculpa, você pode jogar em alto nível, mas é algo que a Fifa precisa ser lembrada”, irritou-se.
“Não é só falar do estado do campo de jogo, mas dos campos de treinamento. Estamos em uma competição de alto nível, não posso conceber ter um gramado com buracos. Tem alguns estádios onde há buracos inteiros. Isso pode impactar e é algo que precisamos mudar”, disse.
Investimento
O responsável pelo gramado do MetLife Stadium é Blair Christensen. Na apresentação do estádio à imprensa, ele admitiu a utilização da Copa do Mundo de Clubes como uma espécie de laboratório para a Copa do Mundo de 2026. “É uma grande forma de estarmos nos estádios que serão utilizados no ano que vem, entender como vai funcionar. Esse é o primeiro uso desse estádio para um torneio. Estamos tentando todos alcançar o mesmo objetivo”, pondera o profissional.
Para se ter uma ideia do nível de exigência de Gianni Infantino, o presidente encomendou uma pesquisa, em 2022, às universidades do Tennessee e de Michigan, em busca do gramado perfeito para a próxima Copa. O investimento em uma superfície impecável e consistente é estimado em US$ 5,5 milhões (R$ 31 milhões).
A Fifa tem certeza do que não quer. Rejeita piso sintético. A ordem é natural. A dimensão dos gramados tem de ser 105 x 68m. Apesar da cobrança pesada, a Copa do Mundo de Clubes mostra o jeitinho americano em cena. Muitos gramados foram aplicados por cima do sintético. É como se você comprasse uma casa com piso de cerâmica ou porcelanato e colocasse um de madeira por cima, sem retirar o debaixo para economizar tempo e dinheiro.