A programação se divide entre dois locais: o Clube da Aeronáutica (CAER), onde acontecem as atividades práticas em partidas entre equipes sub-20 e testes físicos e fisiológicos, e o Centro de Excelência da Arbitragem Brasileira (CEAB), com análises detalhadas sobre os recursos do VAR.
No CAER, os árbitros, assistentes e árbitros de VAR se dividiram em três estações de trabalho: um campo equipado com duas cabines de VAR (uma para atuar diretamente na partida e outra exclusiva para treinamento) e instant feedback (cabine em que uma comissão registra em tempo real os lances da partida para uma revisão de lances capitais com o árbitro de campo ao término do jogo); um segundo campo equipado apenas com instant feedback; e um espaço para atividades físicas e exames de saúde.
No campo equipado com VAR, os árbitros se revezavam em turnos de 15 minutos. Paulo Belence, do quadro da Federação Pernambucana de Futebol, foi escalado para apitar o período final da partida entre Portuguesa e Boavista sub-20. Ao fim do jogo, foi direto para o instant feedback. “Isso é extremamente rico, um feedback instantâneo, só sai do campo, toma água, respira e vamos assistir. Às vezes a sensação é a de que estava tudo certo, aí vamos com os instrutores e vemos os detalhes que precisam ser corrigidos. Para nossa carreira, nossa construção, é muito importante”, disse ele.
Outro ponto destacado por Belence foi a chance de interagir com Darío Ubriaco, uruguaio que é instrutor de arbitragem da FIFA e integrante da Comissão de Arbitragem da Conmebol. Ubriaco elogiou a estrutura montada pela CBF para o evento em termos de simulações de situações de jogo que serão úteis para o dia a dia dos profissionais.
Darío Ubriaca durante treino da arbitragemCréditos: Rafael Ribeiro/CBF
“A estrutura está perfeita. E além do campo em si, tem também devolutivas com instrutores, trabalhos de cabine de VAR. Tudo isso melhora a arbitragem e consequentemente o futebol”, disse ele, um fã declarado do futebol e da arbitragem brasileira. “O árbitro brasileiro dirige um futebol bonito, mas difícil de dirigir. Para mim, sempre estão em um ótimo nível de arbitragem, têm muito conhecimento da regra. O árbitro sempre vai a campo para ser justo. O momento aqui é para buscar sempre melhorar mais”, completou.
Um dos exemplos recentes do alto nível da arbitragem brasileira é Daiane Muniz. Ela iniciou sua trajetória dentro da cabine do VAR (que lhe rendeu o prêmio de melhor árbitra de vídeo do Campeonato Paulista deste ano) e seu domínio da regra e a maneira como se comportava nos bastidores chamou a atenção do presidente da Comissão de Arbitragem, que a convidou para assumir o apito.
Após boas atuações em partidas das Séries C e B do Campeonato Brasileiro, ela foi escalada para apitar a Copa América Feminina deste ano, no Equador. “A convocação para a Copa América é como uma convocação para a Seleção Brasileira. Eu vou representar meu país, vou vestir a camisa do Brasil, é assim que eu me sinto. E muito honrada, todos nós, acredito, estamos orgulhosos por ver as nossas equipes em uma competição FIFA, uma competição internacional, fazendo belos trabalhos”, disse.
Daiane Muniz durante treino da arbitragemCréditos: Rafael Ribeiro/CBF
Preparação física
Para estar em cima do lance, o árbitro precisa de uma preparação física similar a dos jogadores de futebol. Por isso, hoje o dia a dia dos juízes conta com analistas de desempenho, profissionais que até pouco tempo integravam apenas o staff dos clubes de futebol.
O professor doutor em Educação Física Emerson Filipino é o consultor científico responsável pela avaliação física, monitoramento e aprimoramento físico dos profissionais, a partir de trabalhos técnicos, táticos e físicos para criação de indicadores fisiológicos dos árbitros. “Só para a gente ter como exemplo: um jogador de futebol profissional desloca em torno de 10 quilômetros numa partida, e o árbitro também desloca 10 quilômetros. Lógico que tem as particularidades, mas o trabalho básico é a parte física”, explicou Filipino.
Emerson Filipino durante treino da arbitragemCréditos: Rafael Ribeiro/CBF
Entre os testes feitos durante a avaliação, os árbitros fizeram trabalhos específicos para mensuração de flexibilidade e força – e se engana quem pensou que o árbitro Anderson Daronco foi o vencedor no último quesito. “O campeão nesse foi o Bruno Vasconcelos, que chega a 70 de pressão manual, nível de um atleta de arremesso de peso”, disse Filipino. O jogador que estiver em campo em um jogo de Vasconcelos deve caprichar na disciplina, já que para levantar um cartão amarelo não custa nada.