A CBF apresentou na Conferência o relatório da regra da Substituição Adicional e Permanente por Concussão
A CBF apresentou na Conferência da “Isokinetics – Football Medicine”, realizada no estádio do Atlético de Madrid em maio deste ano, o relatório da regra da Substituição Adicional e Permanente por Concussão, aprovada pela IFAB em março de 2024. A CBF foi a primeira Confederação filiada à FIFA a adotar a nova regra no mundo.
Com validade a partir de julho de 2024, a CBF recebeu permissão da FIFA para antecipar a utilização da nova regra para o início dos Campeonatos Brasileiros das Séries A e B, em abril do mesmo ano. Na sessão de apresentação estiveram presentes os representantes das comissões médicas da FIFA, UEFA, Conmebol, pesquisadores de universidades e médicos de várias nacionalidades.
Na oportunidade, os médicos Jorge Pagura, presidente da Comissão Médica e de Combate à Dopagem da CBF (CMCD), e Roberto Nishimura, coordenador operacional da CMCD da CBF, expuseram em detalhes os resultados e procedimentos adotados ao longo da temporada de 2024.
Eles contaram com recursos da tecnologia para a elaboração do trabalho. “Analisamos o Protocolo de Concussão da CBF, enviado pelas equipes médicas e a súmula da partida. Também analisamos as imagens do árbitro de vídeo e de uma plataforma online de análise de vídeos (Wyscout) para descrever os mecanismos da lesão”, contou Roberto Nishimura.
A metodologia de análise de vídeo permitiu o estudo dos mecanismos de trauma. Inicialmente, foram analisados os traumas de cabeça nos Campeonatos Brasileiros Masculinos da Série A, Série B, Série C e Campeonato Brasileiro Feminino A1 da temporada de 2024.
Os choques da cabeça contra a cabeça do adversário foi o mecanismo mais frequente em todos os campeonatos estudados, seguidos pelo choque da cabeça contra o braço do adversário. Os choques de cabeça contra o cotovelo do oponente estão entre as principais causas de atendimento médico nos campeonatos masculinos, mesmo com a recomendação da expulsão pela arbitragem em casos intencionais.
No recorte específico da Substituição Adicional por Concussão, apenas os Campeonatos Brasileiros da Série A e Série B de 2024 foram analisados, e o relatório incluiu apenas os casos em que a regra foi utilizada.
“A CBF foi a pioneira na aplicação da regra da substituição adicional por concussão no mundo e desde 2016 estuda os impactos causados pelos traumas na cabeça dos atletas nos campeonatos nacionais de futebol. Estes estudos deram suporte para a elaboração da nova regra. Além disso, publicamos o Protocolo de Concussão da CBF , que é utilizado pelos médicos de clubes em todos os casos de concussão”, explicou Jorge Pagura.
“Tivemos 15 substituições por concussão na Série A e 10 na Série B. Ajustando a exposição por 1000 horas, tivemos uma incidência de 1,06/1000 horas na Série A e 0,71/1000 horas na Série B. E apenas 64% dos clubes adversários utilizaram o direito de uma substituição adicional por qualquer razão”, pontuou Nishimura.
A análise de vídeo mostrou que o mecanismo de trauma mais comum nos casos de Substituição Adicional por Concussão foi o choque de cabeça contra a cabeça do atleta adversário em duelos aéreos e o choque de cabeça contra o solo. A entrada da ambulância em campo para remoção dos atletas foi observado em 36% dos atendimentos.
Ao ser substituído por motivo de concussão, o atleta fica impedido de participar de jogos por um período mínimo de 5 dias. O protocolo de “return to play” publicado no regulamento da competição descreve em quatro etapas a recuperação clínica do atleta e serve como guia para direcionar as condutas dos departamentos médicos dos clubes.
“ A aplicação pioneira do Protocolo de Concussão , que agora se estende a todas as competições organizadas pela CBF , mostra a preocupação de nossa entidade , com a segurança dos atletas , sem interferência no equilíbrio técnico da partida “ afirmou Jorge Pagura.
Mapeamento de lesões
Desde 2016, a Comissão Médica da CBF realiza o mapeamento de lesões em jogos dos Campeonatos Brasileiros das Séries A e B, que foi temporariamente interrompido em 2020 devido a pandemia da Covid-19 e retomado no ano passado, com a inclusão da Série C e do Campeonato Feminino A1.
Através do método de análise de vídeo pela plataforma Wyscout, todos os atendimentos médicos em campo foram selecionados e classificados de acordo com as circunstâncias de jogo e mecanismos do trauma. Em 1100 jogos, foram contabilizados 944 atendimentos médicos em jogos da Série A, 1014 em partidas da Série B, 564 na Série C e 560 no Brasileiro Feminino A1.
Esta é uma análise inédita que permite a comparação do número de atendimentos médicos entre os campeonatos brasileiros das três principais divisões masculinas e entre as categorias masculino e feminino. Neste item, a maior média de atendimentos foi no Campeonato Brasileiro Feminino A1, com 4,21 atendimentos por jogo. Também foi possível analisar a proporção de substituições por motivo médico, sendo menor no campeonato feminino.
O cálculo do percentual de acréscimos ao tempo regulamentar de jogo impacta diretamente nos minutos de exposição do atleta em campo, com a Série A apresentando o maior percentual de acréscimos entre os quatro campeonatos analisados.
Quanto às circunstâncias do jogo,nos quatro campeonatos houve predominância dos atendimentos no segundo tempo das partidas, no campo de defesa, na fase defensiva do jogo e sem a posse de bola do atleta que necessitou do atendimento médico.
A regra do jogo determina que a arbitragem paralise a partida para o atendimento médico de goleiros. Neste quesito, a maior proporção foi encontrada no campeonato feminino, com 27% de atendimento às goleiras, superior a proporção dos três campeonatos masculinos.
Na descrição dos motivos de atendimento médico em campo, os traumas dos membros inferiores tiveram a maior proporção, seguido pelos choques de cabeça, com distribuição uniforme nos quatro campeonatos.
O mapeamento de lesões da temporada de 2024 é um estudo pioneiro da Comissão Médica e de Combate a Dopagem da CBF, por envolver as três principais séries do campeonato brasileiro masculino e a principal competição nacional feminina. A metodologia aplicada é única do mundo ao estudar torneios nacionais com aproximadamente 3 mil atletas e 9 meses de competição, disputadas em um país de dimensões continentais.
Tanto o estudo da substituição adicional por concussão quanto a metodologia aplicada no mapeamento de lesões resultaram no convite da Comissão Médica da FIFA para que a CBF participe do estudo global de lesões no futebol.
Em dois dias de reunião realizada no mês de junho na sede da FIFA em Zurique, foram discutidos o panorama global dos estudos epidemiológicos realizados nas confederações e centros de pesquisa no mundo. A CBF foi representada neste encontro pelo Coordenador Operacional , Roberto Nishimura, que apresentou a metodologia do estudo brasileiro e os resultados preliminares.
Desta forma, foi incluída no grupo de confederações com expertise na condução de estudos epidemiológicos de lesões no futebol e convidada a contribuir na elaboração e condução do projeto de pesquisa.