CBF prepara Fair Play Financeiro para 2026 sob o comando de Ricardo Paul

Regulamento não deve copiar padrões europeus, mas adaptar à realidade nacional

Mesmo à distância, Ricardo Gluck Paul segue com papel central no avanço do Fair Play Financeiro no futebol brasileiro. Enquanto acompanhava a Copa do Mundo de Clubes nos Estados Unidos nos últimos dias, o vice-presidente da CBF esteve em contato com representantes de federações, clubes e dirigentes internacionais, acumulando dados e percepções enquanto se prepara para liderar o grupo encarregado de construir o novo regulamento de sustentabilidade financeira da entidade.

A missão lhe foi atribuída diretamente por Samir Xaud, presidente da confederação desde maio e que tratou o tema como uma de suas prioridades ao assumir o comando da instituição.

Durante sua estada no torneio, Ricardo acompanhou de perto a adesão quase unânime dos clubes da Série A (exceção do Mirassol) e da maior parte dos times da Série B à iniciativa, visto que o projeto também recebeu apoio de oito federações estaduais.

A etapa inicial, segundo o dirigente, passa pela formação de um colegiado amplo e representativo, que permita a escuta de realidades distintas do futebol nacional. A intenção é reunir, em torno da mesma mesa, dirigentes de clubes com finanças equilibradas, outros em situação crítica, modelos SAF e associativos. Todos devem contribuir para a construção de um modelo possível.

A comissão deve ser oficialmente instalada logo após o encerramento do Mundial de Clubes, marcado para 13 de julho, sendo que a partir daí, o grupo terá até 90 dias para entregar uma proposta de regulamentação. Com passagens pela presidência do Paysandu (2019 e 2020) e da Federação Paraense de Futebol (desde 2022), Ricardo acredita que é viável colocar o modelo em prática já a partir do próximo ano, desde que a implantação ocorra com responsabilidade e de forma escalonada.

“O objetivo do grupo é ter, em 90 dias a partir do início do grupo de trabalho, um relatório do modelo. A partir daí a presidência define a implementação. O esforço que está sendo feito é para que seja (implementado) em 2026. Agora, naturalmente, e isso é uma opinião pessoal, creio também que haverá necessidade na implementação de construir uma onda inicial, uma intermediária e assim por diante. É um processo para não criar um colapso. Não é algo a partir de amanhã. Vai ser algo que tenha relevância, que possa ter impacto, que traga o que a gente procura, mas também que tenha implementação responsável”, afirmou Ricardo Paul ao ge.

Essa necessidade de aplicar o modelo com cautela também está prevista na portaria publicada em 9 de junho, assinada por Samir Xaud. No texto, está descrito que um dos objetivos do grupo é justamente estruturar uma proposta de aplicação gradual das exigências do regulamento, considerando tanto as desigualdades regionais quanto as condições financeiras específicas de cada instituição.

O comitê contará com representantes da CBF, times das Séries A e B, federações estaduais e especialistas externos, e não deve se limitar a copiar modelos internacionais. A ideia é estudar referências estrangeiras de Fair Play Financeiro, mas adaptando os princípios à realidade brasileira.

Um dos temas que também estará na pauta das reuniões é o funcionamento da Câmara Nacional de Resolução de Disputas da CBF, alvo frequente de críticas por parte dos clubes devido à morosidade dos processos, à baixa efetividade das punições e à flexibilidade em acordos. Para Ricardo, o órgão precisa passar por reflexões e ajustes dentro da construção do novo sistema.