Em entrevista exclusiva a CBF TV, goleira da Seleção conta sobre sua trajetória com a Amarelinha e exalta as conquistas do Brasil na caminhada até o mundial
A goleira Lorena tem grandes conquistas para relembrar e comemorar. Ela conquistou a Copa América em 2022, sendo a única goleira na história do torneio continental a jogar todas as partidas sem sofrer gols. O sonho de disputar uma Copa do Mundo em 2023 foi adiado depois de sofrer uma lesão grave. Lorena ficou 11 meses em recuperação mas no ano seguinte foi medalhista olímpica em Paris. Uma medalha de prata que para ela vale ouro pelo protagonismo nos jogos. A CBF TV convidou Lorena para um bate papo. Ela falou sobre a trajetória, a expectativa para o reencontro com a França depois que a Seleção Brasileira venceu a equipe francesa pela primeira vez na história da modalidade. Lorena revisitou memórias até a conquista da prata olímpica e o título da Copa América em 2022. Natural de Ituverava (SP), a atleta, “paredão” da Amarelinha, contou um pouco da sua trajetória por clubes brasileiros até chegar ao Kansas (EUA).
CBF TV – Lorena, a sua história tem algumas curiosidades. Você começou a jogar futebol na rua com meninos. Por acaso, precisou ser a goleira do time mas relutou na posição. Tudo mudou quando você defendeu um pênalti. A partir daí começava sua história no futebol e a realização de sonhos na modalidade.
Sempre fui uma menina muito sonhadora. Eu sempre sonhei em vestir a camisa da Seleção Brasileira. Quando eu era pequena, os poucos jogos que passavam na televisão, eu assistia do lado da minha avó. E sempre falei pra ela, um dia a senhora ainda vai me ver lá, jogando com a Marta, com a Formiga e com a Cristiane. Eu jogava bola na rua com os meninos. Não tinha muitas meninas naquela época. Era uma das poucas. A gente jogava todo sábado, valia refrigerante. Então era aquele jogo da vida, que a gente brincava. E teve um final de semana que o goleiro não pôde ir. A mãe dele não quis deixar ele jogar com a gente. Eu falei para os meninos “pode deixar que eu vou ali, mas no próximo jogo eu saio”. Eu joguei bem o primeiro jogo. Eles gostavam quando eu fazia alguma defesa e celebravam junto comigo. No outro final de semana eu não queria de jeito nenhum ir pro gol, mas o goleiro também não pôde ir. Ele tava de castigo. Aí eu falei, “tá, vou de novo, mas no próximo não vou”. Teve um pênalti e eu defendi. A gente ganhou o jogo. A emoção dos meninos vindo comemorar comigo acendeu dentro de mim uma chama que eu não conhecia. Então depois desse dia, eu sempre queria ir no gol, eu sabia que ali era o meu lugar. Quando fiz o meu primeiro teste, não passei. No segundo teste eu passei lá no Bangu, time do Rio de Janeiro. Foi onde tudo começou. Depois eu fui pro Centro Olímpico em 2012, para o Sport Recife, e Grêmio, onde fiquei cinco anos no Grêmio. Agora tô no Kansas. Tive a oportunidade de vestir a camisa da seleção principal em 2021. Fiquei muito feliz quando tive a oportunidade de jogar o meu primeiro jogo contra a Venezuela e com a vitória também.
CBF TV – Aquela menina sonhadora imaginou que um dia estaria no pódio de uma edição de jogos Olímpicos?
Foi algo inesquecível. A gente sabia que a gente tinha caído num grupo difícil, mesmo assim, com todas as adversidades da primeira fase, a gente passou. Fomos pra um mata-mata logo de cara contra as donas da casa (França), onde a gente conseguiu impor o nosso ritmo e fazer um grande jogo. Tive a felicidade também de pegar mais um pênalti. O Brasil ganhou da França por 1×0. Depois tivemos outros jogos difíceis. As Olimpíadas foram a realização de um sonho. Acho que todo atleta sonha em ser um medalhista olímpico. Claro que todo mundo almeja medalha de ouro, mas essa medalha de prata, pra mim, vale ouro. Foi após uma lesão difícil, de LCA (ligamento cruzado anterior), que me deixou fora de uma Copa do Mundo. Então eu fiquei muito feliz de ter participado dessa campanha. Essa medalha tá guardada lá em casa num lugar especial.
CBF TV – Foi a primeira vez que o Brasil venceu a França na história do futebol feminino. Como foi esse momento na sua perspectiva?
Pra mim, foi marcante desde o começo, desde o pré-jogo. Todo jogo mata-mata tem um gostinho diferente, um gosto especial. Jogar contra as donas da casa, a gente sabia que era importante a gente vencer. Então, quando a gente entrou no estádio, estava uma festa muito bonita. O estádio estava lotado. A emoção, desde cantar o hino nacional ali, já foi diferente. Quando foi para o hino da França, o estádio inteiro cantou. Então a gente já sabia que ia ser um jogo bem difícil. Além de ter a dificuldade dentro do campo, tinha o fator torcida também. Mas, mesmo assim, a gente conseguiu impor o nosso ritmo de jogo e estava um jogo muito equilibrado. Tivemos muitas chances de gol. E com 15 minutos do primeiro tempo, tem o pênalti. A Karchaoui pegou a bola, só que eu já tinha estudado, junto com o Ed (preparador de goleiras) todas as batedoras, todas as possibilidades. Então, os estudos me ajudam muito. Eu tive a felicidade de conseguir defender aquele pênalti, que foi um momento muito importante. Continuamos com um jogo muito sólido, defensivamente. A gente conseguiu fazer aquele gol com a Portilho. Foi um jogo histórico, onde o estádio se calou duas vezes: quando eu peguei o pênalti, e quando a Portilho fez o gol. Eliminamos as donas da casa. Então, para mim, esse jogo é muito especial.
CBF TV- A última Data FIFA vai ser na sexta (27) contra França, um teste importante antes da Copa América. Qual sua análise sobre a seleção francesa e quais os principais desafios nesse confronto?
A seleção francesa é uma seleção muito dura, muito rápida. É uma seleção muito forte no jogo aéreo. No um contra um também. Mas a gente tem um plano de jogo onde a gente vai bater de frente com elas, apesar de ter pouco tempo para trabalhar. A gente tem, se não me engano, quatro sessões de treino. A gente vai chegar muito bem preparado para que a gente possa anular essas qualidades e características delas, para que a gente possa fazer um grande jogo e, mais uma vez, sair com a vitória.
Lorena em primeiro treino da Seleção Brasileira para amistoso contra FrançaCréditos: Lívia Villas Boas / CBF
CBF TV – A Seleção volta depois do amistoso contra França para o Brasil. Vai ter alguns dias de descanso e concentrar na Granja Comary para começar a preparação com foco na Copa América. Competição que você tem conquistas importantes. Além de ter sido campeã em 2022, você entrou para história como a única goleira que jogou todos as partidas e não sofreu gols. Ansiosa para a próxima edição no Equador?
É uma competição onde eu tenho certeza que o Brasil vai chegar muito bem preparado para que a gente possa vencer os jogos e sair campeão. É uma competição onde ela é muito curta, que tem adversários muito duros. São adversários com características sul-americanas. É diferente de você jogar contra um time europeu. É um jogo de mais contato, um jogo de mais disputa. Então, a Copa América é um outro campeonato. É diferente de você jogar uma Copa do Mundo, de você jogar Olimpíadas com times europeus. É um campeonato onde ele é mais duro, mais físico. Tem menos tempo para você descansar. Mas é uma competição de detalhes. Geralmente, as equipes vêm mais fechadas para jogar contra o Brasil. Então, geralmente, um time ataca, outro time defende. Mas é uma competição muito dura.
CBF TV – Faltam dois anos para a Copa do Mundo no Brasil. Em 2023 você era cotada para o mundial mas uma lesão te afastou dos gramados por 11 meses. Qual é a sua expectativa para 2027?
A Copa do Mundo no Brasil significa para mim a realização de um sonho. Sempre quis viver como jogadora, como torcedora e, como brasileira, esse sentimento de Copa do Mundo, que é um sentimento totalmente diferente. Eu fiquei muito feliz quando o Brasil foi escolhido sede, porque eu acho que inspira gerações. Minha família fala muito de poder ver uma Copa do Mundo e de poder ir no estádio. Então, acho que é um significativo. É a realização de um sonho para toda a nação brasileira. Porque acho que desde a criancinha pequena até os senhores de idade, viver uma Copa do Mundo é algo indescritível.